sábado, 12 de novembro de 2011

Vitória

Esse deve ser o texto mais pessoal e corajoso que já escrevi. Um desabafo com uma história.
Talvez eu não esteja muito feliz, sofro preconceito e rejeições por isso. Mas eu sou um vitorioso. Tive (e tenho) uma vida muito difícil. Eu perdi minha mãe quando tinha apenas 6 anos, por uma doença que eu passei para ela. Fiquei traumatizado e me encolhi na minha própria solidão. Tive poucos amigos, nunca tive nenhum amor e sofri (sofro) muito por amores impossíveis e rejeições. Vivi isolado em casa. Comecei a me viciar em nicotina e a beber muito nas minhas poucas saídas. Perdi minha vó materna. Minha vó paterna está muito velhinha e debilitada, ou seja, é questão de tempo para eu perdê-la também. Meu pai ficou um tempo enorme sem conseguir sair de casa por um bloqueio psicológico. Me autoflagelei diversas vezes e tentei o suicídio três vezes. Enfim, a minha vida teve muito obstáculos e eu construí meu mundo em torno da minha depressão e do meu isolamento social. Não estou querendo bancar o coitadinho, isso nem faz parte do meu perfil. Estou querendo dizer que sou muito, mas muito forte! Ninguém nunca prestou muita atenção em mim por conta de seus próprios problemas, mas agora estou me forçando a buscar um caminho novo. Procurei ajuda, fui muito corajoso. Faço terapia, tomo medicamentos, procuro conforto em minha família e amigos (os verdadeiros). Enfim, eu faço isso por acreditar em mim, mesmo que ninguém mais acredite, pois eu sei que irei vencer. Hoje não consigo fazer muita coisa que eu poderia fazer há algum tempo atrás, mas mesmo assim eu ainda persisto. Antes eu me achava fraco, mas hoje eu sei que sou muito forte, bom, verdadeiro e que mereço o melhor! Eu ainda serei um vencedor, podem apostar nisso... Ninguém pode me dizer o contrário. Não é uma doença que vai me derrubar fácil. Nada nem ninguém pode me derrotar, pois sobrevivi a tanta coisa... Minha vida pode estar complicada, mas isso vai passar. Eu vou encontrar algo ou alguém que me mereça e me faça uma pessoa melhor. Eu vou vencer na vida! Eu sei que eu vou conseguir, de verdade.  

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O devaneio de uma noite de verão

Noite escura, melancólica e estrelada
Uma ida pro bar na companhia da solidão
Era quarta-feira, clima abafado
Noite perfeita para se perder na escuridão
Sempre os mesmos pecados pairam no ar
Sempre o mesmo veneno atinge o coração
Era quase fim de ano, porém nada mudou
Tudo era igual, as mesmas avenidas e a mesma direção
Tantas pessoas e tão poucas histórias conhecidas
Mas havia um rosto conhecido perdido no meio da multidão
Que trouxe a beleza no meio de tanta amargura
Mas trouxe a velha amiga, a preocupação
Não há de mais em ser visto por olhos castanhos
No meio de tanta gente, tanta badalação
Quando se está invisível por tanto tempo
Ser olhado causa arrepios e agitação
Ainda mais por aquele olhar distinto e reflexivo
No rosto mais bonito, causando a maior distração
Era questão de segundos até que ele desapareceu
E minha mente se programou para uma nova aparição
Porém, aquilo não era nada comparado com o que já existe
Era algo entre a realidade e a ficção
Era mais que um sonho, era uma verdade inventada
Por um velho soldado desarmado e cheio de imaginação

sábado, 17 de setembro de 2011

Noite compartilhada com as vozes interiores

Uma noite escura e fria, iluminada sob a luz do abajur velho e empoeirado. Uma caneta e um papel arrancado de um caderno são as únicas distrações, além da lua cheia que está maravilhosa.
As idéias correm como trens-bala desenfreados, que não tem destino certo para parar e nem passageiros para mudar a trajetória desconhecida. O único barulho possível de ser escutado é o dos ponteiros do relógio de parede, que está quebrado, como se estivesse atemporal.
A vontade de desistir era grande. Não que estivesse tão mal, mas a procrastinação era imensa naquela noite solitária. Como um diabinho do lado do ombro "aconselhando" a deixar tudo para trás, para mais tarde. A solidão nem é tão ruim, é a companhia mais presente durante a vida. Especialmente nos dias mais frios e tristes, quando nenhuma amizade está presente, a solidão está para acobertar todos os sofrimentos e pesares. Além de tudo, a solidão é uma amiga influente e criativa, dando idéias malucas a toda hora.
Como se acompanhasse a velocidade das idéias, o papel começa a tomar forma com os desenhos e escritos. Nem é necessário olhar para a folha, a ponta da caneta faz esse serviço enquanto ela dança a sua valsa, orgulhosa e sem um pingo de timidez.
Seria perfeito se estivesse nevando lá fora e se tivesse uma lareira daquelas, de tijolos vermelhos, como nos filmes americanos. Mas aqui o clima é limitado... Pelo menos, a imaginação permite que flocos de neve caiam na ponta da língua e derretessem quase que instantaneamente. Mesmo isolado numa casa escura e velha, quase que mal-assombrada.
Ao perceber uma teia de aranha na quina da estante, seus dedos balbuciam, começam a se movimentar no ritmo do contorno do tecido, com todos os detalhes estruturais tão magníficos e poéticos. Quanta perfeição, senhora Mãe Natureza! Quando acaba, ao olhar para o papel, vê a teia completamente sobreposta ao papel. Por cima de todos os desenhos e escrituras que estavam ali, por conta das idéias anteriores. Enfim, ainda não é tão perfeita quanto a teia de verdade, mas é como uma fotografia para lembrar sempre daquelas formas admiráveis.
O tempo voa, como um pássaro carregando comida para os seus filhotes que esperam ansiosos no ninho. A madrugada chega como um visitante esperado, mas que chega antes da hora. Hora da despedida.
- Boa noite, solidão, imaginação, procrastinação e todos os "ãos" que me acompanharam nessa noite.
- Boa noite!

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

A vida e a morte de João Ninguém

Ao levantar da cama numa manhã sonolenta, o rapaz desarrumado vai à passos lentos até a porta mais próxima. Tinha um nome, mas era mais conhecido como João Ninguém. Ao chegar até a porta, ele abre e ouve o rangido habitual que ela faz. Vai para a frente do espelho velho e com rachaduras nos cantos e fica minutos, vagarosos minutos, olhando seu próprio reflexo. Não por vaidade, muito pelo contrário. A auto-estima de João não é das mais altas. Ele se observa, quase que hipnotizado, para o seu rosto, pouco notado nas ruas. Ele faz uma reflexão pura sobre a sua vida ao olhar atento de seu reflexo.
Sua vida passa sob os seus olhos distraídos como se estivesse prestes à morrer, naqueles flashbacks antes do óbito que vemos em filmes e histórias de ficção. Sua vida, até o presente momento, não foi boa, mas também não foi ruim. Era uma vida simples coberta por uma mente complexa.
Lembrou-se da época de infância, jogando bola na vizinhança. Bons tempos... E a vez que caiu da laranjeira ao tentar escalá-la como se fosse o Monte Evereste. Os joelhos ralados são expressões mais puras de uma infância intensa e maravilhosa. A insistência foi tanta, que caiu uma segunda vez. Na época, ficou com raiva e chutou a laranjeira. Hoje, João percebe que cair dela fazia parte de todo um aprendizado.
Depois, lembrou se dos amores platônicos da adolescência... "Ah, como aquela garota da terceira fileira era linda." As notas baixas refletiam a concentração ínfima nas aulas, sua atenção era voltada para suas paixões não-realizadas.
No começo da fase adulta, se sentia sozinho a maior parte do tempo. Poucos amigos, muito estudo e trabalho. Sua vida meio que parou no tempo e, desde então, João Ninguém parou de viver e, hoje, ele se olha no espelho se perguntando como isso foi acontecer. Mas, ao mesmo tempo, se lembrava com prazer dos bons momentos que outrora tivera.
Depois de uma boa lavada de rosto, aproveitou que era domingo e foi para a quarto para ligar a TV e tentar relaxar. Mas uma visita inesperada estava à espera na cama.
- Quem é você? - Pergunta João, surpreso. Era uma moça muito bonita, com unhas longas e pintadas de vermelho, lábios igualmente vermelhos. Cabelos negros e na altura dos ombros. Olhos escuros como dois buracos negros. Ela deu uma risada tímida, ao ser indagada, e respondeu.
- Como você não soubesse...
- E não sei mesmo! - Clamou, de forma ríspida. Estava furioso com a invasão de sua propriedade, mas, simultâneamente, estava ansioso, excitado, como se ele quisesse ser surpreendido.
- Eu estou te esperando. Eu estive do seu lado por um bom tempo. Está preparado?
Sem entender, João gagueja, confuso e envergonhado. Não consegue pronunciar uma palavra, como se todo o seu vocabulário tivesse fugido abruptamente.
- Querido... - Disse a mulher. - Eu sou a Morte.
João ficou branco e disse, com a voz baixa e trêmula.
- M-m-mas já... E-eu t-tenho muito para viver ainda...
- João. Você não percebeu. O tempo passou e você já viveu. Você, aliás, é uma pessoa vitoriosa. Viveu, sob todos os problemas, e superou tudo isso! Você teve uma vida próspera. E não fique com medo ou triste, você vai por causa do ciclo natural da vida. Ao partir, uma nova vida será gerada no mesmo momento.
As luzes se apagaram. João e a Morte partiram para o além, após um jogo de xadrez que foi a vida, a Morte sempre dá o xeque-mate . João Ninguém nunca existiu, mas sua história, paradoxalmente, sim.

domingo, 17 de julho de 2011

Músicos nas ruas de Florianópolis








Yamandu Paz  e Charles André Espíndola, respectivamente.



A paz de Yamandu

Uma bela manhã no meio de uma agitada semana, quinta-feira para ser mais preciso. As pessoas caminham com pressa, indo trabalhar ou cumprir seus afazeres. Nem todos parecem ter essa agitação na praça, há pessoas sentadas no banco se distraindo com seus jornais, vendedores ambulantes esperando por sua clientela, ciganas sentadas esperando para ler a mão de alguém por um trocado, turistas tirando foto da grande figueira. Pessoas de todos os tipos habitam a Praça XV, que chama a atenção por seus vários caminhos, pela diversidade cultural (as pessoas caminhando por lá possuem milhares de estilos e modos de se vestir, há desde pessoas de terno carregando maletas até jovens com camisas largas e bonés de lado) e pelas grandes árvores que existem por lá, dentre elas, como já mencionei, destaca-se a centenária figueira com seus longos galhos que cobrem boa parte da praça, sustentados por hastes metálicas.

 Seguindo meu caminho pela Praça XV, ouço um som bastante peculiar, um solo de violão. Depois ouço uma voz. Vejo um músico de cabelos curtos e grisalhos, camisa cinza clara, calças jeans e sapatos marrons escuros, sentado numa caixa de som que parece ter sido bastante utilizada, cantando com bastante empolgação, balançando a cabeça enquanto as palavras, em espanhol, saem de sua boca em frente ao microfone. Na frente dele, há vários CD’s enfileirados no chão.
Seu nome estava estampado na capa do CD, Yamandu Paz. Um músico uruguaio, de Rivera, cidade pequena que faz fronteira com Santana do Livramento, no Rio Grande do Sul.

Ele, que toca violão desde os 15 anos de idade, diz que seus estilos favoritos são o tango e música de folclore, apesar de também gostar dos clássicos. Além do violão, ele diz que toca gaita, sanfona e acordeom, mas o carro-chefe é o seu bom e velho violão, sempre afinado.
Veio viver em Florianópolis pela primeira vez, tocando violão nas praças, há 4 anos, mas sempre indo e voltando. Esse ano, segundo ele, quer permanecer morando em Florianópolis. Yamandu se diz adaptado ao lugar, pois é uma cidade pequena, aconchegante e receptiva, morando de aluguel.
Além de Florianópolis, Yamandu me disse que já esteve em diversos outros lugares, sempre tocando nas ruas. Já esteve na Argentina, Bolívia e conhece quase o Brasil todo, desde Curitiba até o nordeste. Já morou em Porto Alegre em 90.

Anteriormente, teve diversos outros trabalhos. Fazia próteses dentárias, teve borracharia, lava-jato, trabalhou em empresas. Hoje, diz que só quer viver de música. Vive de forma humilde, mas com o que ganha, só com a música, já consegue pegar o aluguel, botar comida na mesa e viver bem, honestamente.
Todos os dias está na Praça, por volta das 9:00 até às 16:00. Yamandu diz que a rotina cansa, mas ele não tem escolha, e diz novamente que agora só quer viver de música.
Toca nas ruas sempre com um fundo recortado de garrafa de refrigerante cheio de trocados que as pessoas deixam. Pessoas muito receptivas, que param e dão valor ao seu trabalho, segundo Yamandu. Além disso, ele vende seus Cd’s, um gravado no ano passado, outro gravado em 2003, além de outros álbuns de outros artistas. Cada um custa quinze reais e sempre tem gente para comprá-los.

Um músico estrangeiro, completamente adaptado à cidade e sempre muito atencioso, talentoso e apaixonado pela música. Esse é Yamandu Paz.

Numa segunda visita, vejo Yamandu ajeitando suas coisas para começar a trabalhar. Eram cerca de 9:30h e ela estava plugando o cabo de sua caixa de som numa outra caixa de metal num poste na praça. “Alta voltagem” estava escrito em letras bem grandes.
Ele fala que não possui um site oficial, mas gentilmente me passou o seu número de celular caso eu queira entrar em contato.

Ele diz que ninguém diferente apareceu nem nada muito inusitado aconteceu com ele nesses anos todos, ninguém que chamasse a atenção dele parou e o abordou de uma forma mais incomum. Ele diz que seus dias são normais, ele apenas se senta e faz o seu trabalho normalmente, sem grandes surpresas, mas menciono um vídeo no Youtube em que ele toca, em pé, nas ruas de Curitiba, cantando a música “Romaria” (conhecida pelo refrão “sou caipira Pirapora Nossa Senhora de Aparecida”). Ele abre um sorriso e fala que uma mulher havia entrado no clima e filmado, lembra que foi há cerca de três semanas e estava tudo muito enjambrado, sem microfone ou caixas de som.
Lembra que outro vídeo foi gravado com ele em frente à figueira, mas que não sabe se já foi colocado na internet.
Ao ser perguntado se ele faz shows em outros lugares, Yamandu sempre diz: “o meu palco é na praça, aqui é o meu lugar”. Sempre reiterando que agora ele quer viver apenas de música e está tendo êxito com isso.

Yamandu é um dos poucos remanescentes que continuam nas ruas de Florianópolis e se manteve com a sua rotina estável, até o momento. Esse é seu primeiro ano permanecendo em Florianópolis e suas expectativas são otimistas, de continuar exercendo seu trabalho normalmente enquanto ele está por aqui. Afinal, ele é o único músico que está tocando na Praça XV todo dia e toda tarde, e como ele quer viver apenas de música, é uma esperança que teremos o surgimento de mais demonstrações artísticas, por trabalho e por prazer.

Vocação é algo que é preciso muita prática e empenho para aprimorar. Yamandu Paz toca desde os 15 anos e manteve esse apreço pela música desde então. Muitos desistiram, mas ele é um dos vários artistas que continuaram a se empenhar em aprimorar seus dotes musicais diariamente. Pode não ter tido a fama e o dinheiro que muitos artistas almejam quando entram para esse mundo, mas ele possui o prestígio de pessoas que reconhecem sua dedicação e a boa música, tendo a perseverança e o talento que muitos não possuem, além do mais importante: a paixão pelo que faz.

Yamandu, aparentemente, está bem satisfeito em ter chegado aonde ele chegou. Os discos vendem, as pessoas contribuem, ele toca diversas músicas de seu repertório (desde músicas uruguaias até brasileiras). Então ele é um batalhador, assim como a maioria das pessoas, que se dedicou em chegar onde ele está hoje. Enquanto muitos ainda procuram sua própria paz, música é a paz de Yamandu.



Charles André e seu sonho orquestral

Andando pela Trajano no horário de almoço (às 12:45) vejo uma movimentação intensa no local. Jovens se alimentando em estabelecimentos próximos, como a Massa Viva e o Bob’s, pessoas andando com pressa para retornar aos seus trabalhos, idosos aproveitando para caminhar um pouco, comerciantes ambulantes carregando seus produtos, ou seja, a quantidade de cidadãos andando naquele lugar era enorme.

Longe da agitação, entro na Losango Promotora de Vendas Ltda. Haviam pessoas que entravam procurando atendimento, mas nada muito exagerado. Uns minutos depois, aparece um rapaz simpático de óculos de grau e sorriso fácil, ele estava com o uniforme da Losango, indicando que trabalha lá. Era Charles Henrique Espíndola, de 18 anos, manezinho da ilha, cujo cartão diz que toca violino em festas, eventos, casamentos, aniversários, confraternizações e homenagens. Ele é conhecido por, até duas semanas atrás, tocar violino pelas ruas de Florianópolis.

Charles me conta que toca violino há quase 5 anos, desde os 13. Não conhecia quase nada de música até receber um convite da supervisora da Escola Estadual Urbana Jurema Cavalazzi (onde Charles estudava no período diurno) aos alunos para aprender a tocar instrumentos como viola, violino ou violoncelo num projeto da Fundação Franklin Cascaes. Como apenas escutava MPB que a mãe gosta de ouvir e não tinha muito o que fazer depois da aula, Charles pensou em aprender a viola (para posteriormente aprender violão), mas se surpreendeu em ver que a viola não era do tipo “caipira”, e sim uma espécie de violino com cordas mas graves. Apesar disso, decidiu continuar com as aulas. Haviam mais alunos que instrumentos musicais, o que impossibilitava os empréstimos para os estudantes ensaiarem em suas casas, tinham que dividir entre eles.
Porém, com o passar do tempo, ocorreram várias desistências e Charles ficou bastante feliz ao poder pegar a viola emprestada para ensaiar, já que, agora, havia um instrumento para cada aluno.

Como ele não tinha mais nada pra fazer depois das aulas (não tinha videogame, computador, jogos), ele fazia as tarefas e deveres de casa para ensaiar. Ficava por volta das 14h até as 18h só treinando, dizia que sua irmã mais nova se incomodava com o som, quando ela queria assistir televisão.

Já que ele se tornou um aluno de viola/violino bastante avançado, Charles comprou seu próprio instrumento e viu que, no Chile, em Viña Del Mar, Valparaíso, havia um encontro de jovens músicos. Seu professor perguntou se ele queria mesmo viajar, ao receber a resposta afirmativa, ele disse que Charles iria viajar, agora era só arrumar o dinheiro. Como era caro (por volta de 2000 reais), Charles decidiu tentar a sorte e tocar nas ruas. Ficava inicialmente na Jerônimo Coelho, próximo da Panvel, e no mercado público. Tocava músicas clássicas, românticas e tango, principalmente. Inclusive, o que diferencia Charles é o violino, sua marca registrada. É um instrumento mais exótico e “refinado”, raro de ver as pessoas tocarem nas ruas.

No inicio, dizia ficar acanhado, pois seus amigos poderiam dizer que ele estava esmolando ou algo parecido, mas depois, quase todos da região o conheciam e a timidez deu lugar para o empenho. Chegou a aparecer na televisão, numa matéria de esportes, já que sabia tocar o hino do Avaí. Charles já presenciou cenas inusitadas nas ruas, quando como recebeu, por duas vezes, notas de cinqüenta reais de um mesmo sujeito, ou quando, ao tocar um tango, viu uma mulher, possivelmente estrangeira, chorar em sua frente.

Com o reconhecimento, Charles foi tocar também no Maria’s Gourmet, restaurante da Jerônimo Coelho que o acolheu, através de uma pessoa chamada Carla, que o convidou para fazer a sua música lá no horário de almoço em troca de um pagamento extra e almoços gratuitos. Seu cronograma acabou ficando o seguinte: estudava de manhã até o meio-dia, tocava nas ruas por volta das 14h até as 16h30minh ou 17h e ia ensaiar na orquestra profissional das 19h até as 21h. Ou seja, das 14h até as 21h sua dedicação era totalmente voltada para a música. Seu maestro e professor é André Vieira, bastante requisitado em Florianópolis.

Porém, nas últimas semanas, Charles abandonou a idéia de tocar nas ruas quando cobraram dele um alvará para continuar. Ele “escapa” de vez em quando para o Maria’s Gourmet, para dizer que “ainda está vivo”, mas como já conseguiu bastante renda nas ruas, ele parou. Agora, trabalha na Losango atendendo clientes (inclusive nos sábados), toca em diversos eventos (alguns arrumados pelo próprio tutor, André Vieira. Nos que André não consegue ir, ele manda alunos mais experientes, como Charles). Além de tudo, Charles dá aulas (já foi requisitado para isso quando tocava nas ruas) para alunos fixos. Ele conta que seus pupilos são bastante empolgados, uns já compraram seus próprios instrumentos (ele tinha dois violinos, um ele emprestava para os alunos, mas ele precisou vender esse segundo instrumento para acumular renda). Dá aulas em uma creche na Vila Aparecida e no Pântano do Sul, que considera um lugar bem longe, com longas horas de ônibus para chegar até lá. Ele sempre recomenda que seus alunos compareçam também no Instituto Franklin Cascaes, onde ele começou, para que tenham aulas gratuitas. Inclusive Charles dá aulas lá também.

Charles não possuí um site oficial mas já lançou músicas no Youtube com auxílio do programa Audacity. Tocou uma música Gospel e “Yesterday” dos Beatles. Diz que possuí uma mente bem criativa, mas faltam mais teorias e conhecimentos melódicos para compor suas próprias canções. Porém, não deixa de afirmar que adora improvisar.

Agora ele tem planos de prestar faculdade de música na Udesc, para fazer bacharelado e, posteriormente, viver apenas de música. Sempre fala que quer viajar, arrumar mais contatos e expandir seus horizontes. Quer se aprimorar numa segunda língua, já que sabe o básico do inglês. Têm planos de viajar para a Suiça, para ver uma amiga que é de lá e, aproveitando o embalo, aprender sobre música e cultura por lá também. Possui muitos sonhos, como ele mesmo diz: “só ter a experiência de fazer um teste para entrar na orquestra de Viena, já seria uma honra enorme”. Adquirir conhecimentos novos pelo mundo e fazer o que gosta são sonhos que Charles pretende realizar com todo o seu empenho e devoção à música.

Yamandu Paz e Charles André Espíndola podem ter diferenças gritantes e histórias de vida bem diferentes, mas ambos possuem a mesma paixão: a música que corre nas veias de ambos.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Hurt

Well, i hurt myself today. I don't know if someone cares, but i want to write to make it easier. Sorry about my english.
I hurt myself because i'm very sad and desperate. I'm lonely everyday and nobody seems to notice that i'm broken and hurt. I cut myself and burned my skin with cigarettes, i'm not proud of what i've done, but i couldn't control my anger and the pain inside me.
I don't have many friends here, my family don't know what happens to me. She doesn't likes me and my heart is broken. The worst thing is that i'm too depressed to do anything about it, i can't even think straight and i can't see a soluction. I change the medications, go out sometimes to take a breath, then nothing happens. I go back home and try to sleep. Always tired, always trying to cry.
Nobody listens to me, looks like i'm invisible. I don't want to die, i just want to find a reason to live. I want to live a normal life. Make friends, find a girlfriend, do anything everybody does. But it think about killing myself sometimes. I can't avoid this evil thoughts.
I want to be someone i can't be, have something i can never have. It's so sad.
If only i could be someone special to anyone... if only i could be a better person... But i can't, i'm not strong enough to deal that i'm always going to be different, ugly and weird.
I wish i was beautiful, interesting and happy, but i'm not. that's it.
I'm sorry about that, but it's what i feel... Was very hard for me to write this text... I need some help to help myself.

I don't know if someone cares, if you do, let me know...
I'm desperate and hopeless... 

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Love, hate, love

21 anos de solidão, carência e amargura. Bem, essa não é a vida que escolhi pra mim, obviamente, mas é a infeliz realidade. Tenho tentado me livrar das amarras que a vida me trouxe, mas isso se torna impossível ao perceber que estou fadado ao esquecimento. Estou no fundo do poço e preciso de asas para voltar à superfície.
Uma negação. Um coração partido, em frangalhos. Eu tentei, juro que dei o melhor de mim, mas não foi o suficiente. Agora, a Morte se aproxima cada vez mais, como num presságio, num suspiro noturno que chega até mim, antes de eu ir dormir.
Daí eu olho no espelho e vejo a pessoa baixa, feia, sem atrativos e sempre sozinha, como outrora me disseram.
Eu não sou um gênio, sou cheio de limitações e impedimentos, mas sou humano e tenho sentimentos intensos, gostaria de receber ao menos um sinal verde para ter a vida que eu sempre quis. Porém, por mais que eu seja a pessoa mais baixa  do mundo, não tenho direito de viver?
Vejo que a maioria das pessoas já encontrou um caminho e estão felizes, acompanhadas. As que não estão, já tiveram ao menos a oportunidade. Eu só queria a oportunidade, a experiência, a chance de mostrar o meu valor e dizer: eu existo. Essa oportunidade nunca me foi concedida. Todos negam antes mesmo de dar a primeira chance de mostrar que eu me importo com a  determinada pessoa mais que muitos irão se importar.
Uma coisa eu sempre aprendi: querer não é poder. Eu quero coisas que nunca pude ter. Uma pessoa. Não é pedir muito, mas ninguém sequer me olha, sou apenas o estranho, o "cara bacana", nunca "a pessoa certa".
Às vezes, eu gostaria de ter nascido noutro corpo, numa pessoa mais atrativa, mais cativante e mais confiante.
Sou assim e quero, ao menos, uma oportunidade de poder deixar de ser o lobo solitário e me tornar completo, ser admirado, ser amado para amar de volta, ser reconhecido pelos meus esforços e receber o afeto que tanto quis.
Mas tudo me foi negado com uma palavra cruel de três letras garrafais. Um NÃO que mutilou (e continua mutilando) meu coração como milhares de flechas em chamas atiradas por uma besta.
Por que não me dar uma oportunidade de ter uma experiência que nunca tive, mas sempre quis ter? Por que as aparências e a superficialidade sempre ficam em primeiro plano? Por que eu tenho que ser sozinho e ninguém se importa? Por que?

O amor se torna ódio. O ódio de não conseguir amor cresce como um câncer maligno em desenvolvimento. Eu sinto tomar conta da minha alma. O ódio se torna amor de novo, ao encontrar uma nova pessoa, mas o platônico, o inalcançável, faz com que o amor se torne o ódio da frustração e assim por diante. É  um ciclo vicioso, impondo a lei do eterno retorno.

Não sou nada e é isso que me convém. A frase piegas "ninguém me ama, ninguém me quer" realmente é a minha realidade que eu não quero e que me faz sofrer dia após dia, noite após noite. Espero por um anjo que nunca veio me salvar e, hoje, percebo que anjos não existem. A morte existe e, se é isso que querem, é isso que terão.

Bem, sangrei essas palavras com todo o meu coração machucado para ser, ao menos, notado. Não sou especial, mas se me dessem uma brecha, talvez, eu poderia ser e me sentir especial uma vez na vida.

De volta à escuridão. Au revoir.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Ela faz cinema...

Nunca fui muito fã de Chico Buarque (podem me xingar...), mas ao ouvir sua música, percebo que ele tem toda a razão ao colocar suas palavras tão bem pensadas para passar uma verdade absoluta para mim.
Sei que ela pode ser mil, mas não existe outra igual. Ela é a tal.
Não existe outra possoa no mundo que passe uma sensação tão boa e, ao mesmo tempo, tão ruim. Um verdadeiro mistério que eu gostaria de descobrir.
Talvez nem me queira bem, porém faz um bem que ninguém me faz. Quando ela passa, toda de preto e dotada de uma elegância muto cativante. Ela nunca me deu respaldo. Eu amei, mas nunca disse "eu te amo". Não é apenas um amor platônico, um mistério. Ela passa um ar de "missão impossível", mesmo sem dizer uma palavra sequer.
Parece uma brincadeira de um Deus que não existe, para me ver desejar e sofrer por algo que eu nunca saberei se era pra ser.
Falar sobre Ingmar Bergman, Pedro Almodovar, Woody Allen... simplesmente magnifico. Tudo isso acompanhado de um olhar único, uma visão de mundo diferenciada e uma voz suave num vento de outono.
Eu sempre te vejo e não te conheço, agora eu vejo e não vejo. Vejo ela em todos os rostos quando ela não está por perto. Ela some e, quando reaparece, parece que meu coração acelera tanto que chega a parar de bater por alguns segundos, como se aplaudisse a presença tão adorável dela.
A solidão faz com que eu me sinta perdido, vendo sozinho um filme mudo preto-e-branco num cinema cheio de gente vazia. Queria que o tempo parasse só no instante que eu tive a oportunidade de falar com ela, mas o tempo é cruel. Eu nunca mais terei aquele tempo de volta pra mim. Mesmo assim, eu amei ela com todas as minhas forças (e fraquezas). Sempre amei demais. Amo até a silhueta dela, que se apaga com o apagar das luzes num palco de madeira, o teatro da vida numa tela de cinema.
É preciso reconhecer, foi tudo errado. Não era minha e não era pra ser, mesmo cultivando uma esperança morimbunda, eu sei que ela nunca será minha. Ela é do cinema. Ela faz o cinema acontecer.
Ela é assim, nunca será de ninguém, porém eu não sei viver sem. C'est la vie.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

O sentido da vida e a vida sentida

Quando a tela de sua vida anda repetitiva e em preto-e-branco, é preciso descobrir novos meios de colorí-la e dar novas seqüencias à ela. Sim, preciso de novas emoções e a vida não anda pra frente, mas sempre existe aquela esperança mínima de que as coisas irão melhorar e que algo novo irá causar a mudança tão esperada. Essa esperança é uma engrenagem, quase enferrujada, que precisa ser polida diariamente, mesmo sendo um trabalho muito difícil e pesado.
Um dia, o pote de ouro no fim do arco-íris tem que ser encontrado. Mesmo se não existir algo assim, é preciso encontrar o sentido da vida! Sim, o sentido da vida, parafraseando o fantástico Monty Phyton.
Mas qual seria esse misterioso sentido da vida? Até então, desconheço o sentido da minha (a definição é algo singular e pessoal), mas acredito que o sentido, num âmbito geral, da vida seja, justamente, a busca incessante pela resposta em si. 
Agora, algo que ultimamente não ocorre, é a vida sentida. As pessoas, inclusive eu, andam num mundo repleto de prazos e de individualismo, fazendo com que a vida não seja devidamente aproveitada. A vida só é vida se recheada de emoções, boas e ruins. A vida anda morta nos dias de hoje... Culpa de nós mesmos? Culpa do sistema e da sociedade? Culpa de Deus (se é que ele existe)?
Não há respostas fáceis, mas são respostas que nós podemos criar, subjetivamente, para tornar nossos intermináveis questionamentos, ao menos, solucionáveis. Fica mais cômodo e mais prático arrumarmos soluções na nossa cabeça, mesmo se forem irreais.
A verdade é que talvez nunca encontremos o sentido da vida, mas podemos sentir que é possível decifrar o enigma da esfinge antes que ela nos devore. Aliás, precisamos sentir a vida para darmos um sentido a ela.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Tarde de chuva

Era uma tarde chuvosa de outono.
As plantas estavam devidamente molhadas. As pessoas estavam com pressa. Nada de "oi" ou "como vai?".
Ninguém ousava dividir seu guarda-chuva, comprado na base desespero. A irritação por ter gasto dez reais num mero guarda-chuva davam um ar arrogante para pessoas simples, que apenas não tiveram um dia mais fortuito.
Algumas pessoas se foram no meio do aguaceiro, com os cabelos encharcados e com a cabeça úmidecida, porém não menos esquentada, por conta de um dia tenebroso. Muito trabalho e pouca diversão, soma-se isso com a chuva.
"Ah, não vou gastar com guarda-chuva, meu dia já foi uma merda mesmo... chegando em casa tomo um banho". Provavelmente, se pudessemos ler pensamentos, algo parecido com isso apareceria na mente de uma dessas várias pessoas encharcadas.
De repente, no meio do céu acinzentado, aparece um brilho no céu. Ninguém repara, pois as nuvens negras que rodeiam a cabeça dos indíviduos fazem com que a luz seja ofuscada. Mas ela está lá.
O sol surge no meio do clima chuvoso, um arco-íris corta o céu como uma pincelada colorida no meio de um quadro bem negro. O pote de ouro não está no fim do arco-íris, e sim, está no próprio arco, que embeleza a cidade e, infelizmente, passa despercebido pela maioria das pessoas, preocupadas com suas vidas miseráveis.
"Sol e chuva, casamento de viúva", diz uma senhora solitária da janela do quinto andar de um prédio. Nenhuma viúva se casou naquela tarde, pois a Igreja estava servindo de "abrigo" para pessoas desprotegidas que, impacientemente, esperavam o sol raiar de vez e tomar o lugar das nuvens escuras.
O que aconteceu, foi exatamente o oposto. Às 16 horas, o pouco sol que ainda havia saiu por completo, o vento carregava as finas gotas de água com mais intensidade. Um relâmpago cai, ouve-se um estrondo seguido por um feixe de luz. "O tempo está doido", esbravejou o dono da banca, no momento em que as luzes se apagaram por um problema na fiação.
O medo e o desespero tomou conta da cidade à luz de velas, pois já estava escuro, mesmo sendo de tarde, e gatunos poderiam se aproveitar do mau tempo e causar algum dano aos moradores.
Foi entediante, mas a chuva cessou e as luzes voltaram em pouco menos de uma hora. O tempo limpou de vez e as pessoas aproveitaram para terminar seus serviços o mais breve possível para voltar para casa sãos e secos (pelo menos, os que se "salvaram" do aguaceiro, pois os outros queriam mesmo é ir pra casa e tomar um banho quente).
18 horas e as pessoas estavam indo embora de seus trabalhos. Continuavam sem dizer "oi" ou "como vai você?". Não é um clima bom ou ruim que vai mudar o âmago das pessoas que andam cada vez mais individualistas. Humanos geralmente são assim, com sol ou chuva (ainda bem que existe a exceção, os poucos e bons que não olham apenas para seu próprio umbigo).
E o amanhã? O amanhã ninguém sabe. Pode ser igual a hoje, pode ser um dia único. Ninguém sabe. A única coisa que foi comum a todos da cidade no dia de hoje é que foi uma tarde chuvosa de outono.
 

Urso Bipolar

Eu sou o desespero de um espírito sem freio
que avança no sinal amarelo e no vermelho
mas pára no verde só pra ser do contra
e finge que não é de sua conta...

Aquele sorriso amarelo no escuro
Sem brilho, sem o menor escrúpulo
É bonito de se ver, mesmo sendo feio
A indencência não precisa de espelho

No meio da merda, existe a beleza
Beleza é muito mais que aparência
Não é bom nem ruim, é mais ou menos
Afinal, quem não sente desespero?

Não sei quem eu sou, todo dia eu sou gente
Mas eu não sou eu todo dia, todo dia é diferente
Nada mais do que eu, mas muito menos do que você imagina
Por que você não vai ver se eu estou lá na esquina?

De manhã bem, de noite mal à pior
O azulejo refleto o que sinto de melhor
Nada sei sobre o que eu deveria saber
Querer não é poder, pra morrer se tem que viver

Um dia sim, uma noite não
Acordo na cama, durmo no chão
De vez em quando a sobriedade de ser enche o saco
Inconstância num curto tempo e espaço

domingo, 10 de abril de 2011

Procrastinação desenfreada

Deixo o amanhã para o amanhã
Amores, sabores, direitos e deveres
Tudo fica para o dia do amanhã
Aquele fatídico dia que nunca vem

Sempre haverá amanhã enquanto se vive
Mas mesmo assim, o amanhã nunca chega
É sempre assim, todo dia é assim
E sempre será, se nada mais começa

Acendo um, apago outro
Gasto mais uma noite olhando pela janela
Luzes parecidas com pequenos pontos
A mesma casa, a mesma cela

Medo de sair, receio de voltar
Prefiro dormir e não pensar em nada
Problemas vem sempre para ficar
Desistir não significa parar para repensar

Na TV a tela escura que reflete meu olhar
Sei que devia fazer hoje o que é de hoje
A cadeira gira, como um peão à rodar
Insistindo para que eu deixe tudo pra depois

Um depois que nunca vem... e nunca veio.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Depression or sadness?

“People think depression is about being sad. They think it’s just when you ‘feel down’. It’s not. It’s like a darkness that creeps over you and fills you. It drains all your emotions. It takes everything from you, and leaves you feeling hollow and numb. It’s not sadness, it’s not anger, it’s hopelessness. Imagine waking up and there being no colour. Walking outside and feeling no wind. Eating a meal and tasting nothing. Holding someone and feeling completely alone at the same time. When you’re depressed, it’s not a bad mood. It’s a numb, empty, hollowness that seems to never leave. It’s feeling alone in a room full of people. You feel like there’s no hope left.”

“As pessoas acham que a depressão é algo como ficar triste. Elas pensam que é só quando você se sente “pra baixo”. Não é. É como uma escuridão que te rodeia e entra completamente em você. Suga todas as suas emoções. Tira tudo de você e deixa você se sentindo vazio e entorpecido. Não é tristeza, não é raiva, é desesperança. Imagine acordar e não ver as cores. Sair e não sentir o vento. Comer uma refeição e não sentir o gosto. Estar com alguém e se sentir completamente só ao mesmo tempo. Quando você está deprimido, não é um mau humor. É um entorpecimento, um vazio que nunca parece desaparecer. É se sentir só num quarto cheio de pessoas. Você se sente como se não houvesse mais esperança.”

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

dia/noite dos namorados/solitários

Feliz dia dos namorados. Feliz dia dos desesperados.
Saia com sua companhia. Fique em casa sem alegria.
Compre flores e chocolates. Compre whisky barato e conhaque.
Vá ao parque ou ao cinema. Alugue filmes, veja e reveja.
Olhe nos olhos. Alimente mais o ódio.
Amorosa declaração. Pontada no coração.
Compre um presente caro. Fume mais um cigarro.
Saia para jantar, reseve uma mesa. Peça uma pizza de calabresa.
Jantar à luz de velas. Todas vadias, cadelas.
Mãos dadas e dedos entrelaçados. Pele machucada e punhos cerrados.
Dançando tango no centro do palco. Ouvindo Radiohead chorando no quarto.
Amor é o sentimento mais lindo do mundo. O amor não existe, utopia do mundo.
Viaje muito, não se importe com o dinheiro. Gaste o que tiver num bar ou num puteiro.
Alegria inocente, como se fossem crianças. Nada além de solidão e lembranças.
Paixão pela vida. Dor desapercebida.
Desejo. Medo.
Amor. Rancor.
Empolgação em acordar, a vida parece uma aventura. Depressão na madrugada, feridas que não se curam.
Perseverança. Insegurança.
Motivações para continuar.  Pensamentos de se suicidar.
Beleza. Tristeza.
Sorte no jogo do amor. Azar em tudo que sonhou.
Parece um casal daqueles de cinema. Problema, problema e mais problema...
Gentilezas como abrir a porta do carro. Aquele que é sempre só, motivo para os outros tirarem sarro.
Mão discreta no ombro, abraços confortantes. Ninguém pra desabafar, objetos cortantes.
Beijo apaixonado de novela. Carência afetiva e inveja.
Sorrisos sinceros e demasiadamente bonitos. Será que as coisas podem ficar piores que isso?
O mundo é lindo e colorido. Tudo em preto-e-branco e destruído.
Céu azul, grama verde. Sem passado, sem presente.
Almas gêmeas, anjos da guarda. O céu é dos amantes, o inferno te aguarda.
É tão bom ter alguém ao alcance. Nunca teve nem terá alguma chance.
Romance cliché e exagerado. Nunca deram valor, sempre será desprezado.
O amor vai mudar o mundo. Mais um gole no whisky vagabundo.
Data para comemorar a união. Data comercial feita de desilusão.
Cama de casal, amor mútuo. Apartamento frio e esquecido no subúrbio.
Lembranças felizes e expectativas. Diversões baratas e sem alegrias.
A vitalidade de um amor correspondido. Morto, mesmo que ainda esteja vivo.
Olhos brilhantes, coração acelerado. Ainda vão arrepender de não terem valorizado.
O casal unido e apaixonado. O cara sozinho que nunca é notado.
Tenha um feliz dia dos namorados. Tenha um infeliz dia dos namorados.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Rod

O garoto chega em casa da escola, cansado e em prantos. O pai, extremamente severo, pergunta com um tom agressivo:
- o que foi dessa vez?
O filho responde com uma voz baixa e pausada, aos soluços:
- eu... eu não quero mais viver... não quero ir pra escola... não quero mais...
O pai fica vermelho e dá um tapa no filho
-COVARDE! como pode dizer isso? Pare de chorar e vá trocar de roupa... Seja homem, moleque! Homem!
E o filho diz:
- Preciso de uma ajuda... um psicólogo talvez...
- E desperdiçar meu precioso dinheiro. Nem pensar! Isso é coisa de malucos e descontrolados, você é um menino de 15 anos, tem que estudar e jogar futebol, não pensar nessas coisas. Agora vá se trocar de uma vez! Garotos não choram, lave o rosto!
E ele, de cabeça baixa, obedeceu o pai.

Bem, partindo pelo princípio, Rod era filho único (seu nome era fruto da paixão da mãe pelo músico Rod Stewart). Sua mãe morreu por complicações do parto. Desde então o pai, Pedro (que se orgulhava do próprio nome, considerado viril) criado com muita disciplina e rigidez (seu falecido pai era um ex-militar), cria o filho sozinho com a mesma educação que recebeu. "Seja homem, trabalhe duro, não reclame" eram frases que seu pai falava muito, para que ele crescesse da "maneira exemplar". Agora ele usa os mesmos bordões para o filho Rod (por dentro, ele descontava no garoto toda a raiva de ter tido uma infância dura e da morte da esposa, mas nem ele mesmo se dava conta disso).

Pedro, na noite do mesmo dia que o filho chegou arrasado do colégio, estava na sala vendo futebol e tomando cerveja. Rod chega na sala e fala pro pai, de cabeça baixa.
- Estou sofrendo muito, cansei de tudo, de todos... Cansei...
- Fica quieto! Estou vendo o jogo.
- Preciso de ajuda!
- Vai ver TV, estudar... Puta que o pariu, chuta a bola direito, caralho!
E o filho foi para o quarto em silencio. Ficou chorando a noite inteira.

Nos dias seguintes, as conversas se repetiam. O filho queixava-se para o pai, o pai dava um sermão e mandava o garoto "sair mais de casa e jogar bola" ou mandava "estudar". Rod tentava pedir ajuda, dizia que sofria "bullying".
- Pai, eu apanho na saída da escola.
- Seja homem, garoto! Vai reclamar com a direção, mande o seu amigo se catar, sei lá, agora me deixe almoçar, tenho que voltar ao trabalho daqui a pouco! Você só arranja problema, és um garoto, vai brincar!

As conversas nem se repetiam mais. O garoto escondia sua dor e sua raiva, pois sabia que as respostas seriam as mesmas de sempre.
Um belo dia, o filho não aguentou mais e falou novamente, dessa vez com a voz mais alta e chorosa:
- Cansei. Só levo porrada! Nada melhora! Cansei dessa vida!
- Para de choramingar! Seja homem! Eu trabalho duro e não fico por aí reclamando... Vai brincar na rua de tarde, tenho que trabalhar daqui a pouco, você só vai me atrasar!
Conformado, Rod disse de forma seca e decepcionada:
- Tá bom, pai.
- Esse é meu garoto!
Mas Rod não foi brincar na rua.

Quando Pedro chegou em casa, viu algo chocante. Seu filho, enforcado com sua gravata favorita (Pedro considerava gravatas um símbolo de masculinidade e compromisso com o dever), no alto de uma haste do quarto.
Caiu em prantos, como nunca antes. Ficou se perguntando "o que houve de errado? Por que ele fez isso? Por que ele não era como os outros garotos".
Chorando muito, mas querendo descobrir as respostas de seus questionamentos. Pedro viu um bilhete nas mãos do filho enforcado. Respirou fundo e abriu a nota de suicídio. Para sua surpresa, não era nada complexa, ou que visava responder diretamente suas perguntas. As lágrimas caiam como uma avalanche pelo rosto enrugado de Pedro.

A nota dizia: "seja homem!"





Ps: O nome dos "personagens" são metafóricos e não foram "escolhidos" por acaso.