Era uma tarde chuvosa de outono.
As plantas estavam devidamente molhadas. As pessoas estavam com pressa. Nada de "oi" ou "como vai?".
Ninguém ousava dividir seu guarda-chuva, comprado na base desespero. A irritação por ter gasto dez reais num mero guarda-chuva davam um ar arrogante para pessoas simples, que apenas não tiveram um dia mais fortuito.
Algumas pessoas se foram no meio do aguaceiro, com os cabelos encharcados e com a cabeça úmidecida, porém não menos esquentada, por conta de um dia tenebroso. Muito trabalho e pouca diversão, soma-se isso com a chuva.
"Ah, não vou gastar com guarda-chuva, meu dia já foi uma merda mesmo... chegando em casa tomo um banho". Provavelmente, se pudessemos ler pensamentos, algo parecido com isso apareceria na mente de uma dessas várias pessoas encharcadas.
De repente, no meio do céu acinzentado, aparece um brilho no céu. Ninguém repara, pois as nuvens negras que rodeiam a cabeça dos indíviduos fazem com que a luz seja ofuscada. Mas ela está lá.
O sol surge no meio do clima chuvoso, um arco-íris corta o céu como uma pincelada colorida no meio de um quadro bem negro. O pote de ouro não está no fim do arco-íris, e sim, está no próprio arco, que embeleza a cidade e, infelizmente, passa despercebido pela maioria das pessoas, preocupadas com suas vidas miseráveis.
"Sol e chuva, casamento de viúva", diz uma senhora solitária da janela do quinto andar de um prédio. Nenhuma viúva se casou naquela tarde, pois a Igreja estava servindo de "abrigo" para pessoas desprotegidas que, impacientemente, esperavam o sol raiar de vez e tomar o lugar das nuvens escuras.
O que aconteceu, foi exatamente o oposto. Às 16 horas, o pouco sol que ainda havia saiu por completo, o vento carregava as finas gotas de água com mais intensidade. Um relâmpago cai, ouve-se um estrondo seguido por um feixe de luz. "O tempo está doido", esbravejou o dono da banca, no momento em que as luzes se apagaram por um problema na fiação.
O medo e o desespero tomou conta da cidade à luz de velas, pois já estava escuro, mesmo sendo de tarde, e gatunos poderiam se aproveitar do mau tempo e causar algum dano aos moradores.
Foi entediante, mas a chuva cessou e as luzes voltaram em pouco menos de uma hora. O tempo limpou de vez e as pessoas aproveitaram para terminar seus serviços o mais breve possível para voltar para casa sãos e secos (pelo menos, os que se "salvaram" do aguaceiro, pois os outros queriam mesmo é ir pra casa e tomar um banho quente).
18 horas e as pessoas estavam indo embora de seus trabalhos. Continuavam sem dizer "oi" ou "como vai você?". Não é um clima bom ou ruim que vai mudar o âmago das pessoas que andam cada vez mais individualistas. Humanos geralmente são assim, com sol ou chuva (ainda bem que existe a exceção, os poucos e bons que não olham apenas para seu próprio umbigo).
E o amanhã? O amanhã ninguém sabe. Pode ser igual a hoje, pode ser um dia único. Ninguém sabe. A única coisa que foi comum a todos da cidade no dia de hoje é que foi uma tarde chuvosa de outono.
quarta-feira, 11 de maio de 2011
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