Ontem (dia 26 de Julho), Stanley Kubrick faria 84 anos se estivesse vivo. Para celebrar essa data, será interessante mostrar um pouco de sua filmografia e quem era esse gênio da sétima arte.
Kubrick nasceu em 1928 no Condado de Bronx, em Nova Iorque. Ele nunca foi um estudante aplicado na infância, suas notas eram relativamente baixas e ele não costumava fazer as lições. Mas seu pai percebia que, apesar da irregularidade de sua vida estudantil, ele possuía uma mente criativa e que precisava ser encorajada. Seu pai então começou a ensinar xadrez (Kubrick depois se tornou um especialista) e deu a ele sua primeira máquina fotográfica.
Kubrick iniciou sua trajetória de cineasta aos 22 anos, com curta-metragens. Seu primeiro longa foi aos 25 anos com grande auxílio financeiro do pai, mas o próprio Kubrick considerou um trabalho amador e tratou de tirá-lo de circulação. Mesma coisa aconteceu com seu segundo filme, mas no terceiro, "O Grande Golpe", ele começou a ganhar mais notoriedade. "Glória deita de sangue", de 1957, foi uma adaptação da novela homônima e claramente era antiguerra, mostrando a covardia e a sede de sangue das pessoas envolvidas. Por isso esse filme foi proibido em alguns países, como a França. Mas ele conseguiu atrair público e ganhar popularidade. Nos anos seguintes, Kubrick foi se especializando e acabou desenvolvendo clássicos atrás de clássicos. A seguir veremos a sinopse e uma breve analise de alguns de seus filmes mais importantes em ordem cronológica.
Lolita (1962) - A adaptação de Kubrick para o romance de 1955 do escritor russo Vladimir
Nobokov sobre uma relação entre um homem de meia-idade e sua enteada de 12 anos. Apesar de originalmente ser uma produção que mostraria uma clara situação de pedofilia, a censura da época fez com que houvessem apenas sutis sugestões de um envolvimento sexual. O que não diminui o erotismo e a tensão de um "amor proibido". Uma das cenas mais lembradas do filme é de Humbert (James Manos) pinta as unhas dos pés de uma provocante Lolita (Sue Lyon). As curiosidades do filme é que ele não segue ao pé da letra o romance russo, além da questão da pedofilia. O filme não acontece pela ordem cronológica, o que origina um grande flashback. Outra diferença é a idade de Lolita, que no filme ela tem 14 anos para diminuir o "choque" da relação.
Dr. Fantástico (1964) - Esse é uma obra-prima, repleta de humor negro e piadas sobre planos de guerra, política e bomba atômica. O nome do filme original é "Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb" (algo como Dr. amor estranho ou: como eu aprendi a parar de me preocupar e amar a bomba), ou seja, um título nem um pouco comercial. Quem se destaca nesse é o genial Peter Sellers (aquele mesmo que trabalhou em comédias como "Um Convidado bem trapalhão" e os filmes da "Pantera cor-de-rosa". Ele havia trabalhado com Kubrick em Lolita e ganhou mais espaço nesse filme). Peter Sellers não é só um simples protagonista, ele se divide em papéis totalmente diferentes. Charlie Chaplin, por exemplo, já fazia isso em filmes como "O grande ditador" (em que Chaplin era o ditador e o cabelereiro judeu), mas nunca antes dessa forma inovadora, que nem parece que é o mesmo ator interpretando os personagens. O detalhe é que Sellers interpreta não dois, mas três personagens! Eles são: o capitão e oficial britânico Lionel Mandrake, o ex-cientista nazista especialista em bomba atômica, que com o fim do Terceiro Reich se tornou conselheiro dos americanos, Dr. Strangelove (Dr. Fantástico) e o presidente americano Merkin Muffley.
Destaque para o braço incontrolável do Dr. Fantástico, que faz a saudação nazista como um "tique nervoso".
O filme é baseado num romance chamado Red Alert, de Peter George, sobre a Guerra Fria. O filme satiriza o horror causado pela ameaça da bomba nuclear de uma forma irônica e sagaz. A genialidade de Kubrick é explorada de uma forma muito mais intensa que Lolita. Talvez esse seja um dos filmes mais irônicos do cinema, mas é preciso prestar atenção para "pescar" as piadas mais sutis.
2001 - Uma odisseia no espaço (1968) - Admito que esse nunca foi um dos meus favoritos, mas a sua importância para o cinema é inegável. Para ver esse filme, é preciso se deixar levar pela imaginação e pela outra dimensão captada por Kubrick através dos sons e luzes. O tema central é a evolução humana e o futuro, com as novas descobertas tecnológicas e realismo científico. Ele possui o mínimo de diálogo possível e imagens ambíguas, com uma fotografia de brilhar os olhos e sons intensos como uma ópera. A transição do osso para a espaçonave (do macaco para o homem) é algo que demonstra as mudanças que a humanidade passou (e que ainda irão passar) nesse filme quase surrealista de ficção-científica. O destaque vai para o computador HAL, ironicamente, o personagem mais carismático e divertido.
Dr. Fantástico (1964) - Esse é uma obra-prima, repleta de humor negro e piadas sobre planos de guerra, política e bomba atômica. O nome do filme original é "Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb" (algo como Dr. amor estranho ou: como eu aprendi a parar de me preocupar e amar a bomba), ou seja, um título nem um pouco comercial. Quem se destaca nesse é o genial Peter Sellers (aquele mesmo que trabalhou em comédias como "Um Convidado bem trapalhão" e os filmes da "Pantera cor-de-rosa". Ele havia trabalhado com Kubrick em Lolita e ganhou mais espaço nesse filme). Peter Sellers não é só um simples protagonista, ele se divide em papéis totalmente diferentes. Charlie Chaplin, por exemplo, já fazia isso em filmes como "O grande ditador" (em que Chaplin era o ditador e o cabelereiro judeu), mas nunca antes dessa forma inovadora, que nem parece que é o mesmo ator interpretando os personagens. O detalhe é que Sellers interpreta não dois, mas três personagens! Eles são: o capitão e oficial britânico Lionel Mandrake, o ex-cientista nazista especialista em bomba atômica, que com o fim do Terceiro Reich se tornou conselheiro dos americanos, Dr. Strangelove (Dr. Fantástico) e o presidente americano Merkin Muffley.
Destaque para o braço incontrolável do Dr. Fantástico, que faz a saudação nazista como um "tique nervoso".
O filme é baseado num romance chamado Red Alert, de Peter George, sobre a Guerra Fria. O filme satiriza o horror causado pela ameaça da bomba nuclear de uma forma irônica e sagaz. A genialidade de Kubrick é explorada de uma forma muito mais intensa que Lolita. Talvez esse seja um dos filmes mais irônicos do cinema, mas é preciso prestar atenção para "pescar" as piadas mais sutis.
2001 - Uma odisseia no espaço (1968) - Admito que esse nunca foi um dos meus favoritos, mas a sua importância para o cinema é inegável. Para ver esse filme, é preciso se deixar levar pela imaginação e pela outra dimensão captada por Kubrick através dos sons e luzes. O tema central é a evolução humana e o futuro, com as novas descobertas tecnológicas e realismo científico. Ele possui o mínimo de diálogo possível e imagens ambíguas, com uma fotografia de brilhar os olhos e sons intensos como uma ópera. A transição do osso para a espaçonave (do macaco para o homem) é algo que demonstra as mudanças que a humanidade passou (e que ainda irão passar) nesse filme quase surrealista de ficção-científica. O destaque vai para o computador HAL, ironicamente, o personagem mais carismático e divertido.
Barry Lyndon (1975) - Esse provavelmente é um dos filmes menos aclamados de Kubrick, mas é uma obra-prima que vale a pena assistir. Os 184 minutos de duração são de pura arte e atuação. Baseado no romance de William Makepeace Trackeray. A iluminação desse filme foi feita inteiramente por velas e luzes naturais, Kubrick teve que utilizar uma lente da NASA para conseguir o efeito desejado. Esse filme é um épico que retrata a ascensão e queda de Barry Lyndon. Redmond Barry é um jovem pedante irlandês que se apaixona por sua prima já comprometida. Barry refugia-se em Dublin e ingressa no exército, após algumas batalhas, é capturado e acaba se tornando espião da Prussia. Lá ele tem um caso com a Senhora Lydon, que está prestes a se tornar viúva. Assim ele começa a atingir a aristocracia que ele tanto almejava.
O filme é um épico que mostra como a vida de um rapaz sobe e desce de uma forma intensa, captando todos os momentos com maestria. Esse filme foi metódico e todas as cenas foram controladas de uma forma que ficassem o mais próximo da perfeição possível. Alguns críticos chegaram a dizer que Barry Lyndon não é apenas um filme, e sim um livro ilustrado, de tão grandioso.
O Iluminado (1980) - Eu sou suspeito para falar, já que esse é um dos meus filmes favoritos. É uma adaptação do livro homônimo do "rei do terror" Stephen King (apesar que o autor não ficou totalmente satisfeito com o filme por não ter sido tão fiel ao livro em algumas partes). Jack Torrance (interpretado de forma genial por Jack Nicholson, que, com suas caretas e seu jeito para interpretar psicopatas alucinados, como já havia feito em "Um estranho no ninho", ganhou notoriedade) é um escritor que leva a sua mulher e o seu filho para viver num luxuoso hotel nas montanhas, fechado no inverno. Lá ele irá trabalhar como caseiro no período que estará fechado. O hotel esconde segredos terríveis e, aos poucos, Jack vai ficando mais insano, seu filho Danny começa a ter visões e a falar com vozes interiores e a esposa acaba tendo que lidar com o terror do lugar. Banhos de sangue, possessões, gêmeas estranhas, um quarto proibido e a cena clássica da machadada na porta são apenas alguns ingredientes desse clássico do terror psicológico. Um detalhe que muitas vezes é passado por cima são as menções ao massacre da população nativa americana. O hotel foi construído em cima de um cemitério indígena, há latas de fumo indígena na despensa e o baile-fantasma acontece num 4 de Julho, dia da independência dos Estados Unidos. Essa é uma obra para ser vista várias vezes, pois cada vez surgem novos detalhes e interpretações.
Nascido para matar (1987) - Esse poderia ser apenas mais um filme sobre a Guerra do Vietnã, se não fosse a genialidade de Kubrick. Dividido em duas partes, ambas contadas sob o ponto de vista do soldado Joker (Coringa, em bom português). A primeira mostra o recrutamento de jovens para o exército sob a tutela do rígido e intimidador sargento Hartmann (parodiado várias vezes em desenhos e outros filmes), Lá, um dos jovens (chamado de Gomer Pyle pelo próprio sargento) claramente não está apto para servir. Ele está fora de forma, desajeitado e muito atrás dos outros soldados, que acabam sendo punidos também pela falta de comprometimento de seu colega. A segunda parte mostra a guerra do Vietnã em si, com Joker como correspondente de um jornal militar, cobre a guerra junto de outros soldados.
A primeira parte, na minha opinião, é infinitamente melhor, pois Gomer Pyle e o sargento Hartmann roubam a cena, são personagens memoráveis e com atuações maravilhosas e intensa. Justamente na primeira parte Kubrick acaba utilizando o tema da desumanização, com soldados enlouquecendo por conta da rigidez do treinamento. A segunda parte também é interessante, e Kubrick utiliza do mesmo recurso da trilha sonora já mencionado no Laranja Mecânica. Aqui ele utiliza a engraçada e irritante "Surfin' Bird" (conhecida popularmente como "Bird is the word") do The Trashmen enquanto os soldados atiram contra os vietnamitas. O penúltimo filme de Kubrick é uma grande crítica aos próprios americanos, principalmente pelo irônico cântico dos soldados no final. Vale muito a pena assistir.
De olhos bem fechados (1999) - O último filme de Kubrick foi filmado 12 anos depois e é um thriller sexual. Novamente Kubrick mostra a sua paixão pela música clássica através da "Valsa 2" de Shostakovich, parte da trilha sonora do filme. A história mostra a mentira da sociedade e as vidas secretas. As pessoas usam máscaras para esconder a sua verdadeira natureza. Inspirado no "Breve romance de sonho", de Arthur Schnitzler, a história mostra um casal da alta sociedade, Alice Harford (Nicole Kidman) e Dr.Bill Harford que tem vidas "perfeitas". Até que eles vão para uma festa e Bill é paquerado por modelos e Alice por um húngaro. Eles acabam discutindo e jogando na cara um do outro a raiva reprimida deles, até que Alice diz que deveria ter ficado com um homem que ela havia conhecido há um tempo atrás. Dr. Bill acaba se tornando melancólico e procurando se conhecer, com seus desejos mais íntimos. Nesse momento, surpreendentemente, um amigo médico acaba introduzindo Bill numa estranha convenção restrita, um universo singular e secreto que possui membros mascarados, senhas e rituais estranhos. Esse é um filme para se assistir atentamente e fecha com chave de ouro a brilhante trajetória de Kubrick nos cinemas. Ele morreu em 7 de março de 1999 de ataque cardíaco, pouco antes da finalização e do lançamento do filme. A genialidade do olhar atento de Kubrick e seu estilo totalmente único e inovador nunca mais foram esquecidos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário