sexta-feira, 20 de maio de 2011

O sentido da vida e a vida sentida

Quando a tela de sua vida anda repetitiva e em preto-e-branco, é preciso descobrir novos meios de colorí-la e dar novas seqüencias à ela. Sim, preciso de novas emoções e a vida não anda pra frente, mas sempre existe aquela esperança mínima de que as coisas irão melhorar e que algo novo irá causar a mudança tão esperada. Essa esperança é uma engrenagem, quase enferrujada, que precisa ser polida diariamente, mesmo sendo um trabalho muito difícil e pesado.
Um dia, o pote de ouro no fim do arco-íris tem que ser encontrado. Mesmo se não existir algo assim, é preciso encontrar o sentido da vida! Sim, o sentido da vida, parafraseando o fantástico Monty Phyton.
Mas qual seria esse misterioso sentido da vida? Até então, desconheço o sentido da minha (a definição é algo singular e pessoal), mas acredito que o sentido, num âmbito geral, da vida seja, justamente, a busca incessante pela resposta em si. 
Agora, algo que ultimamente não ocorre, é a vida sentida. As pessoas, inclusive eu, andam num mundo repleto de prazos e de individualismo, fazendo com que a vida não seja devidamente aproveitada. A vida só é vida se recheada de emoções, boas e ruins. A vida anda morta nos dias de hoje... Culpa de nós mesmos? Culpa do sistema e da sociedade? Culpa de Deus (se é que ele existe)?
Não há respostas fáceis, mas são respostas que nós podemos criar, subjetivamente, para tornar nossos intermináveis questionamentos, ao menos, solucionáveis. Fica mais cômodo e mais prático arrumarmos soluções na nossa cabeça, mesmo se forem irreais.
A verdade é que talvez nunca encontremos o sentido da vida, mas podemos sentir que é possível decifrar o enigma da esfinge antes que ela nos devore. Aliás, precisamos sentir a vida para darmos um sentido a ela.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Tarde de chuva

Era uma tarde chuvosa de outono.
As plantas estavam devidamente molhadas. As pessoas estavam com pressa. Nada de "oi" ou "como vai?".
Ninguém ousava dividir seu guarda-chuva, comprado na base desespero. A irritação por ter gasto dez reais num mero guarda-chuva davam um ar arrogante para pessoas simples, que apenas não tiveram um dia mais fortuito.
Algumas pessoas se foram no meio do aguaceiro, com os cabelos encharcados e com a cabeça úmidecida, porém não menos esquentada, por conta de um dia tenebroso. Muito trabalho e pouca diversão, soma-se isso com a chuva.
"Ah, não vou gastar com guarda-chuva, meu dia já foi uma merda mesmo... chegando em casa tomo um banho". Provavelmente, se pudessemos ler pensamentos, algo parecido com isso apareceria na mente de uma dessas várias pessoas encharcadas.
De repente, no meio do céu acinzentado, aparece um brilho no céu. Ninguém repara, pois as nuvens negras que rodeiam a cabeça dos indíviduos fazem com que a luz seja ofuscada. Mas ela está lá.
O sol surge no meio do clima chuvoso, um arco-íris corta o céu como uma pincelada colorida no meio de um quadro bem negro. O pote de ouro não está no fim do arco-íris, e sim, está no próprio arco, que embeleza a cidade e, infelizmente, passa despercebido pela maioria das pessoas, preocupadas com suas vidas miseráveis.
"Sol e chuva, casamento de viúva", diz uma senhora solitária da janela do quinto andar de um prédio. Nenhuma viúva se casou naquela tarde, pois a Igreja estava servindo de "abrigo" para pessoas desprotegidas que, impacientemente, esperavam o sol raiar de vez e tomar o lugar das nuvens escuras.
O que aconteceu, foi exatamente o oposto. Às 16 horas, o pouco sol que ainda havia saiu por completo, o vento carregava as finas gotas de água com mais intensidade. Um relâmpago cai, ouve-se um estrondo seguido por um feixe de luz. "O tempo está doido", esbravejou o dono da banca, no momento em que as luzes se apagaram por um problema na fiação.
O medo e o desespero tomou conta da cidade à luz de velas, pois já estava escuro, mesmo sendo de tarde, e gatunos poderiam se aproveitar do mau tempo e causar algum dano aos moradores.
Foi entediante, mas a chuva cessou e as luzes voltaram em pouco menos de uma hora. O tempo limpou de vez e as pessoas aproveitaram para terminar seus serviços o mais breve possível para voltar para casa sãos e secos (pelo menos, os que se "salvaram" do aguaceiro, pois os outros queriam mesmo é ir pra casa e tomar um banho quente).
18 horas e as pessoas estavam indo embora de seus trabalhos. Continuavam sem dizer "oi" ou "como vai você?". Não é um clima bom ou ruim que vai mudar o âmago das pessoas que andam cada vez mais individualistas. Humanos geralmente são assim, com sol ou chuva (ainda bem que existe a exceção, os poucos e bons que não olham apenas para seu próprio umbigo).
E o amanhã? O amanhã ninguém sabe. Pode ser igual a hoje, pode ser um dia único. Ninguém sabe. A única coisa que foi comum a todos da cidade no dia de hoje é que foi uma tarde chuvosa de outono.
 

Urso Bipolar

Eu sou o desespero de um espírito sem freio
que avança no sinal amarelo e no vermelho
mas pára no verde só pra ser do contra
e finge que não é de sua conta...

Aquele sorriso amarelo no escuro
Sem brilho, sem o menor escrúpulo
É bonito de se ver, mesmo sendo feio
A indencência não precisa de espelho

No meio da merda, existe a beleza
Beleza é muito mais que aparência
Não é bom nem ruim, é mais ou menos
Afinal, quem não sente desespero?

Não sei quem eu sou, todo dia eu sou gente
Mas eu não sou eu todo dia, todo dia é diferente
Nada mais do que eu, mas muito menos do que você imagina
Por que você não vai ver se eu estou lá na esquina?

De manhã bem, de noite mal à pior
O azulejo refleto o que sinto de melhor
Nada sei sobre o que eu deveria saber
Querer não é poder, pra morrer se tem que viver

Um dia sim, uma noite não
Acordo na cama, durmo no chão
De vez em quando a sobriedade de ser enche o saco
Inconstância num curto tempo e espaço