quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Os três estranhos no bar dos desconhecidos

Haviam três pessoas numa mesa de um velho bar com pouca clientela. O primeiro era um rapaz sério, inteligente, mas muito calado e ansioso. Ele fumava seus Marlboros vermelhos quase que instintivamente para tentar esconder, mesmo que sem eficácia, seu nervosismo. Aparentava ser uma pessoa desleixada por causa de sua barba por fazer e suas roupas velhas e desbotadas, mas era uma pessoa muito preocupada com sua aparência. Até pelo fato de não se sentir bem consigo mesmo, não gostaria de estar ali naquele momento. Tinha muitas cicatrizes no rosto, cada uma escondia uma história, mas ele tentava escondê-las à todo custo.

A segunda pessoa era uma jovem muito bonita, de rosto fino, pele clara (que acentuava suas bochechas rosadas), olhos negros e misteriosos. Ela era muito insegura e tímida, conversava de uma forma tão sucinta que aparentava ser uma pessoa áspera e fria, mas ela tinha um sorriso tão simpático que esse aspecto acabava sendo esquecido em questão de segundos. Usava um vestido preto e tinha uma tatuagem na nuca, um número "7", que ela nunca explicou o significado.

A terceira pessoa era um ex-universitário que teve problemas com drogas. Tem várias lembranças daquela época que ele gostaria de esquecer, por isso, dita o ritmo da conversa para não cair nesse assunto desagradável. Ele sempre faz piada de tudo, para esconder a depressão profunda que está passando, após ter sofrido um colapso nervoso. No momento toma Prozac em segredo. Tem cabelos longos, como um roqueiro dos anos 70. Está usando calças jeans rasgadas e uma jaqueta de couro, que escondia uma camiseta do Led Zeppelin, sua banda favorita. Havia parado de fumar recentemente, mas não aguentou e voltou pouco tempo depois, mas tenta moderar nesse aspecto.

Papo vai, papo vem. As três pessoas escondiam suas verdadeiras essências com risadas e descontração. Nenhuma delas está a vontade, mas todas tentam manter uma boa impressão e continuam interagindo entre si. A primeira pessoa tem interesse na segunda pessoa, mas ele se achava tão feio perto da terceira que se sentia embaraçado, não falava quase nada interessante. A segunda estava mais interessada no álcool do que na conversa, apenas acenava com a cabeça e fingia estar dando atenção aos dois rapazes. A terceira pessoa só queria se sentir melhor e esfriar um pouco a cabeça, por isso falava sem parar e fazia várias piadas, mas não estava adquirindo a satisfação que esperava.

A segunda pessoa começa a demonstrar interesse na terceira pessoa, devido ao papo descontraído, os efeitos do álcool, a carência. A terceira pessoa percebe isso e decide levar a segunda pessoa para sair. A primeira pessoa sai do bar decepcionada consigo mesmo por não ter auto-estima suficiente para uma investida. Após pouco tempo juntos, a terceira pessoa abandona a segunda e vai embora da cidade, sem nem se despedir. No fim das contas, a segunda pessoa poderia ter sido feliz com a primeira pessoa, se tivesse consciência dos seus sentimentos e consideração por eles, mas acabou infeliz e sozinha, como a primeira pessoa. Os três nunca mais se viram. Foi uma noite atípica.

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